Padre é preso pela PF com dólares e euros escondidos
Administrador dos bens da Arquidiocese do Rio tentava embarcar para Portugal com o equivalente a R$ 117.240 não declarados
Rio - Um novo escândalo mexe com a Igreja Católica. O administrador dos bens da Cúria e pároco da Igreja de Copacabana, monsenhor Abílio Ferreira da Nova, 77 anos, foi preso domingo à noite pela Polícia Federal (PF) quando tentava embarcar para Portugal com 52.895 euros (R$ 115.898) e 778 dólares (R$ 1.342) escondidos em bagagens e, segundo agentes, até dentro das meias.Dos R$ 117.240, o pároco só comprovou, após ter sido flagrado, a procedência de 7 mil euros (R$ 15.400), mostrando documento de câmbio emitido por banco. Por lei, o passageiro só pode embarcar para fora do País com até R$ 10 mil. Quando passa desse montante, o valor deve ser informado.
O monsenhor ficou cerca de seis horas preso na delegacia da Polícia Federal do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, mas, por ser idoso, ter problemas de saúde e não apresentar ameaça à ordem pública, foi solto pela juíza Maria do Carmo Freitas Ribeiro, da 3ª Vara Federal Criminal. Ele vai responder em liberdade pelo crime de evasão de divisas.
O religioso se preparava para entrar no voo 184 da TAP, às 18h45, quando foi abordado por agentes que checavam denúncia de que um senhor de nome Abílio tentaria ir para a Europa levando alta quantia de euros e dólares não declarados. O pároco foi orientado a acompanhar dois agentes, que verificaram suas bagagens.
Na mala, foram encontrados 45 mil euros camuflados entre roupas, latas de goiabada e material de higiene pessoal. Na bagagem de mão, havia mais euros e os dólares. Os agentes perceberam que o suspeito era padre pela roupa que estava vestindo e na revista às malas. Eles se surpreenderam ainda mais com o fato de que Abílio também teria escondido notas de dinheiro nas meias. “Senhor padre, desculpe, mas o senhor está preso”, anunciou um dos policiais.
Em depoimento ao delegado federal Carlos Furtado, o monsenhor afirmou que pretendia viajar de férias para Portugal, onde vive sua família, e garantiu que o dinheiro seria usado para ajudar seus parentes pobres e na reforma de uma paróquia.
Em nota, o ecônomo lamentou “o erro de não ter informado, previamente, que estava de posse das economias” e garantiu que o dinheiro era parte de economias pessoais, adquiridas ao longo de sua vida, e que a procedência está declarada. Após o episódio, a Cúria informou que Abílio será substituído do cargo e que ele já havia pedido a renúncia desde maio.
Há um ano, outro escândaloO religioso se preparava para entrar no voo 184 da TAP, às 18h45, quando foi abordado por agentes que checavam denúncia de que um senhor de nome Abílio tentaria ir para a Europa levando alta quantia de euros e dólares não declarados. O pároco foi orientado a acompanhar dois agentes, que verificaram suas bagagens.
Em maio de 2009, monsenhor Abílio assumiu a administração dos bens da Arquidiocese no lugar do padre Edvino Steckel. Auditoria feita pela Igreja mostrou que, em 16 meses de gestão, Edvino gastara R$ 14 milhões em despesas desnecessárias ou não justificadas. O DIA mostrou, na época, o luxo de sofás e poltronas — de couro, com enchimento de penas de ganso — adquiridas por mais de R$ 50 mil para a sede da entidade.
A Arquidiocese também determinou a devolução, por Edvino, do carro importado que ele usava, um Jetta. Um modelo novo custa mais de R$ 90 mil. A Igreja mandou que fossem retirados dos roteiros das missas anúncios de cartão de crédito criados na gestão de Dom Eusébio Scheid, que, em abril de 2009, deixara a Arquidiocese.
“Isso enxovalha todo um trabalho que se faz em favor dos pobres”, dissera, na época, o monsenhor. Padre Edvino foi retirado do cargo de ecônomo depois que o ‘Informe do DIA’ revelou a compra, pela Arquidiocese, de apartamento de luxo por R$ 2,2 milhões no Flamengo que serviria de lar no Rio para Dom Eusébio. Ele havia nomeado Edvino em 2008.
ENTREVISTA COM MONSENHOR ABÍLIO: ‘O DINHEIRO É LIMPO, NÃO É ESPÚRIO’
Português de nascimento e brasileiro naturalizado, o monsenhor Abílio Ferreira da Nova afirmou ter errado ao não declarar o dinheiro que, segundo ele, é fruto de suas economias. “Esse dinheiro, que nem é tanto assim, é limpo, não é espúrio, tenho comprovada sua origem. Nada é roubado”, disse ontem à tarde. Segundo ele, dos 52 mil euros apreendidos, 45 mil seriam doados para parentes e para a igreja de Povóa de Varzim, sua terra natal.
1. Por que o senhor não declarou o dinheiro?
— Eu errei. Eu sabia que tinha que declarar, mas não sabia onde isto seria feito. No embarque, não me perguntaram nada, também nem era tanto dinheiro assim. Depois que a polícia me abordou, eu disse que poderia fazer a declaração e pagar multa, mas me informaram que não era mais possível.
2. Qual é a origem de todo esse dinheiro?
—São economias que fiz durante muito tempo. Como não preciso gastar dinheiro, guardo o que recebo. Tudo está declarado, pago normalmente os meus impostos. Na Arquidiocese eu não mexo com dinheiro, não assino cheques, apenas cuido da administração.
3. Onde estavam as notas?
—Como o volume era muito grande, coloquei 45 mil euros na mala, ao lado de latas de goiabada. O resto estava na minha bolsa, com o passaporte. Eu é que mostrei esta outra quantia à polícia.
4. Quando é que comunicou o fato a Dom Orani?
—No domingo mesmo, no aeroporto. Ele ficou chateado, claro, mas compreendeu o que se passou.
5. O dinheiro foi descoberto graças a uma denúncia anônima. O senhor tem ideia de quem pode ter feito isto?
—Não faço a menor ideia. Ninguém sabia que eu levaria esse dinheiro, nem minha sobrinha, que mora comigo. Quem fez a denúncia sabia meu nome completo, o horário do meu voo.
6. Acha que o autor pode ser alguém prejudicado com os episódios na Arquidiocese do ano passado?
—Isso é por sua conta. Não tenho certeza de nada, não posso suspeitar de ninguém.
7. Vai mesmo deixar o cargo de ecônomo?
—Em maio eu já havia solicitado minha saída. A procuração que me permite exercer o cargo só é válida até outubro. (Fernando Molica)
Reportagem de Maria Luisa Barros e Maria Mazzei
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